28.6.12

A Última Páscoa

Os filhos de Israel celebraram a primeira Páscoa na ocasião em que foram libertados da escravidão no Egito.
Deus lhes prometera libertação. Disse-lhes que o primogénito de cada família egípcia seria morto.
Ordenara-lhes que marcassem as ombreiras da porta com o sangue de um cordeiro para que quando o anjo exterminador estivesse fazendo seu trabalho, passasse por alto a habitação dos hebreus.
Deveriam assar aquele mesmo cordeiro e comê-lo à noite com pães asmos e ervas amargas que representavam a amargura da escravidão.
Ao comerem a carne do animal, deveriam estar prontos para a jornada, tendo os pés calçados e o cajado na mão.
Fizeram como o Senhor lhes instruíra e, naquela mesma noite, o rei do Egito ordenou-lhes que deixassem o país. Pela manhã, iniciaram a viagem rumo à terra prometida. Desde aquele dia, os israelitas costumavam celebrar a Páscoa todos os anos, em memória daquela noite em que foram libertos do jugo da servidão. Naquela ocasião, o povo congregava-se em Jerusalém para ali comemorar o evento. Cada família preparava um cordeiro que comiam acompanhado de ervas amargas como seus antepassados no Egito e contavam aos filhos como Deus fora misericordioso com eles, libertando-os da escravidão.
Chegara o tempo em que Jesus devia comemorar a festividade com Seus discípulos e pediu a Pedro e a João que encontrassem um lugar e preparassem a ceia da Páscoa.
Centenas de pessoas vinham a Jerusalém para a celebração e os habitantes da cidade se dispunham a ceder um cómodo da casa para os visitantes fazerem sua comemoração.
O Salvador dissera a Pedro e a João que ao saírem pelas ruas encontrariam um homem com um cântaro de água. Deveriam então segui-lo até a casa em que entrasse e dizer ao dono da casa:
"O Mestre manda perguntar-te: Onde é o aposento no qual hei de comer a Páscoa com os Meus discípulos?" Luc. 22:11.

Esse homem deveria então mostrar-lhes uma sala espaçosa no andar superior da casa, provida com tudo de que precisavam e ali deveriam preparar a ceia pascal. Tudo aconteceu conforme Jesus havia dito.
Na hora da ceia, os discípulos estavam a sós com Jesus. O tempo que haviam passado em companhia do Mestre, nessas festas, havia sido sempre uma ocasião de grande alegria; agora, porém, Jesus estava com o espírito atribulado.
Finalmente, disse-lhes com a voz embargada pela tristeza:
"Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do Meu sofrimento." Luc. 22:15.
Tomando da mesa um cálice de vinho não fermentado, disse:
"Recebei e reparti entre vós; pois vos digo que, de agora em diante, não mais beberei do fruto da videira, até que venha o reino de Deus." Luc. 22:17 e 18.
Era a última vez que Jesus celebrava a Páscoa com Seus discípulos. Era também a última Páscoa que devia ser celebrada na Terra, porque, o sacrifício do cordeiro deveria ensinar às pessoas que um dia Cristo, o Cordeiro de Deus, viria para morrer pelos pecados do mundo. Assim, com Sua morte, não haveria mais necessidade de imolar o cordeiro quando Seu sacrifício estivesse consumado.
Quando os judeus selaram sua rejeição de Cristo condenando-O à morte, rejeitaram tudo o que dava àquela festa importância e significado. Daí em diante a solenidade seria uma cerimónia sem valor.
Lição de Humildade
Durante a celebração pascal, passava em Sua mente as cenas de Seu último e grande sacrifício. Encontrava-Se agora à sombra da cruz e a dor torturava-Lhe o coração. Viu diante de Si toda a angústia que devia sofrer.
Conhecia a ingratidão e a crueldade que lhes mostrariam aqueles a quem viera salvar; contudo, não Se preocupava com Seu próprio sofrimento e sim com os que O rejeitariam como Salvador, perdendo a vida eterna.
Seus discípulos, no entanto, eram a Sua maior preocupação, pois quando não mais estivesse com eles, seriam deixados a lutar sozinhos no mundo.
Tinha muitas coisas para lhes dizer que serviriam de alento ao seu coração, quando não mais estivesse na companhia deles. E desejava falar sobre isso naquele último encontro antes de Sua morte.
Mas nada pôde dizer, pois eles não estavam preparados para ouvir.
Tinha havido contenda entre eles e ainda abrigavam o pensamento de que em breve Jesus seria proclamado rei e que cada um deles ocuparia posições de honra em Seu reino. Assim, eram hostis e ciumentos uns com os outros. Havia ainda outro problema. Em uma festa, o servo devia lavar os pés dos convidados e naquela ocasião, fizeram os preparativos para isso. Ali estavam o vaso de água, a bacia e a toalha prontos para o lava-pés, mas não havia servo. Os discípulos, portanto, deviam fazer a parte do servo.
Em seu coração, os discípulos não queriam fazer o papel de servo de seus irmãos. Não estavam dispostos a lavar-lhes os pés. Desse modo, tomaram seus lugares à mesa em silêncio.
Jesus esperou para ver o que eles fariam. Então, Ele mesmo levantou-Se, cingiu-Se com a toalha, despejou água na bacia e começou a lavar os pés dos discípulos. Embora magoado por causa da discórdia entre eles, não os repreendeu com palavras duras. Demonstrou Seu amor, agindo como servo de Seus próprios discípulos. Quando terminou, disse-lhes:
"Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque Eu o sou. Ora, se Eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também." João 13:12-15.
Dessa maneira, Jesus ensinou aos Seus discípulos que deviam servir uns aos outros. Em vez de buscarem a posição mais elevada para si mesmos, deveriam se dispor a servir seus irmãos.
O Salvador veio ao mundo para trabalhar pelos outros, vivendo para ajudar e salvar os necessitados e pecadores e Ele deseja que façamos o mesmo.
Os discípulos sentiram-se envergonhados de seu ciúme e egoísmo. Seu coração moveu-se de amor para com o Mestre e para com seus irmãos. Só agora é que estavam prontos para ouvir os ensinos de Cristo.
Em Sua Memória, até que Ele Venha
Estando todos em silêncio, à mesa, Jesus tomou o pão e tendo dado graças partiu-o e entregou-o aos discípulos, dizendo: "Isto é o Meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de Mim." Luc. 22:19.
Tomou também o cálice, dizendo: "Este é o cálice da nova aliança no Meu sangue derramado em favor de vós." Luc. 22:20.
Diz a Bíblia: "Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha." I Cor. 11:26.
O pão e o vinho representam o corpo e o sangue de Jesus. Assim como o pão foi partido e o vinho tomado, o corpo de Jesus foi partido e Seu sangue derramado por nós.
Comendo o pão e bebendo o vinho, demonstramos que cremos neste fato. Mostramos que nos arrependemos de nossos pecados e que aceitamos a Cristo como nosso Salvador.
Enquanto participavam da ceia, os discípulos perceberam o sofrimento de Jesus. Uma atmosfera de tristeza contagiou a todos e comiam em silêncio.
Finalmente, Jesus disse: "Em verdade vos digo que um dentre vós me trairá." Mat. 26:21.
Os discípulos ficaram surpresos e entristecidos com aquela declaração de Jesus e cada um começou a examinar seu coração para ver se havia nele algum mau desígnio contra Seu Mestre.
Um após o outro perguntava: "Porventura, sou eu, Senhor?" Mat. 26:22.
Só Judas permanecia calado. Isso fez com que todos os olhares se voltassem para ele. Percebendo que estava sendo observado, também perguntou: "Acaso, sou eu, Mestre?" Jesus lhe respondeu em tom solene: "Tu o disseste." Mat. 26:25.
Jesus havia lavado os pés de Judas, mas isso não fez com que amasse o Mestre mais do que antes. Ficou aborrecido porque Cristo havia feito o trabalho de um servo. Agora ele sabia que Jesus não seria rei e isso fez com que ficasse mais determinado a traí-Lo.
Ao perceber que seu intento havia sido descoberto, não teve medo. Levantou-se zangado e rapidamente deixou a sala para realizar seu plano perverso. A retirada de Judas foi um alívio para os que ficaram. O rosto de Jesus iluminou-se e a nuvem de tristeza se dissipou.
Cristo então conversou com eles durante algum tempo. Disse que ia para a casa de Seu Pai e que prepararia um lugar para eles e retornaria para levá-los consigo.
Prometeu enviar o Espírito Santo para que fosse o Mestre e Consolador deles. Disse-lhes que orassem em Seu nome e, certamente suas orações seriam atendidas.
Jesus então orou por eles, pedindo a Deus que os livrasse do mal e que amassem um ao outro assim como Ele os amava.
Jesus orou por nós do mesmo modo que orou pelos discípulos, dizendo:
"Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em Mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és Tu, ó Pai, em Mim e Eu em Ti, também sejam eles em Nós; para que o mundo creia que Tu Me enviaste; Eu neles, e Tu em Mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que Tu Me enviaste e os amaste, como também amaste a Mim." João 17:20, 21 e 23.
Fonte: Vida de Jesus, Ellen G. White

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