13.12.09

ARREPENDIMENTO E FÉ

A palavra ARREPENDIMENTO resulta de uma palavra grega – metanoeo ou metanóia – esta palavra está associada à salvação. A palavra metanoeo ou metanóia são pois de uma expressão no Novo Testamento de capital importância. Recordemos os dois ladrões que foram crucificados com Cristo. Um é chamado o “bom ladrão”. A questão é: Era ele melhor do que o “mau ladrão”, não, ambos eram ladrões, ambos faziam as mesmas coisas e por esses crimes foram julgados e condenados. Porque razão ele é conhecido como o “bom ladrão”? a resposta é simples! Arrependimento.

1. DUAS ESPÉCIES DE ARREPENDIMENTO

Há um arrependimento bíblico e há também um arrependimento legal. O arrependimento legal surge inteiramente através do temor das consequências. Esta é a espécie de sentimento que Judas provou. O arrependimento bíblico é acompanhado de tristeza segundo Deus e opera no coração pelo Espírito de Deus levando à regeneração ou novo nascimento.

1.1 Reconhecimento do pecado. O Espírito Santo no ser humano leva-o a ver-se a si mesmo como diferente de Deus e em rebelião contra Deus. Compreende que está em oposição a Deus e que a sua condição está em completa oposição à santidade de Deus. Discerne que Deus detesta a sua condição e o seu estado. O reconhecimento do pecado que entra no arrependimento para a salvação tem a ver, primariamente, não com o facto que o pecado traz castigo senão com a sensibilidade que o pecado ofende a Deus. Há, sem dúvida, um temor das consequências eternas do pecado; o que não é, porém, a coisa primária. Este reconhecimento do pecado é convicção e ele constitui o elemento intelectual do arrependimento.

1.2 O pecado é progressivamente aborrecido. A tristeza divina entra no arrependimento. Quando alguém se vê a si mesmo como se fora diante de Deus, ele é levado a lamentar o seu pecado e a aborrecê-lo. Isto é o elemento emocional do arrependimento.

1.3 O pecado é abandonado. Não é completo o arrependimento enquanto não houver uma íntima sensação de repúdio pelo pecado que conduz a uma mudança externa da conduta. Isto é o elemento voluntário ou volitivo do arrependimento. Assim o arrependimento concerne à inteira natureza interna: intelecto, emoção e vontade.

2. O ARREPENDIMENTO É INTERNO

Ao passo que o arrependimento se manifesta exteriormente, contudo de si mesmo é interno, segundo o significado do original. A Escritura distingue entre arrependimento e frutos dignos de arrependimento (Mat. 3:8; Actos 26:20).

A tradução católica romana da Bíblia (Versão de Douay) substitui arrependimento por penitência. Como entender tal tradução? Assim lemos da Versão de Douay: Fazei penitência, porque o reino do céu está próximo." (Mat. 3:2); a menos que façais penitência, todos igualmente perecereis." (Luc. 13:5). Testificando tanto a judeus como gentios penitência para com Deus e fé em nosso Senhor Jesus Cristo." (Actos 20:21). E da penitência diz a Versão de Douay no comentário a Mat. 3:2. Cuja palavra, segundo o uso das Escrituras e dos santos padres, não só significa arrependimento e correcção de vida senão também punição dos pecados passados pelo jejum e tais exercícios penitenciais semelhantes." Três coisas podem ser ditas a respeito deste comentário:

(a). É absolutamente falso dizer que a punição dos pecados passados pelo jejum e tais exercícios de penitências semelhantes sejam uma parte do sentido da palavra grega.

Como já foi notado, a palavra grega significa uma mudança interna. O verdadeiro arrependimento consiste de emoções mentais, emocionais e mudança de atitude, não de castigos externos auto-impostos. Mesmo a vida piedosa e a devoção a Deus resultantes são descritas não como arrependimento senão frutos dignos de arrependimento.

(b). Nega a suficiência da satisfação de Cristo pelos nossos pecados em franca contradição com a Escritura (Cf. Rom. 4:7,8; 10:4; Heb. 10:14; 1 João 1:7).

Desde que Cristo fez inteira satisfação pelos nossos pecados, não há para nós punição a actual, excepto as consequências naturais do pecado. O crente sobre as consequências aqui, tanto ao nível das emoções, falta de paz, insegurança, não tendo a certeza que os méritos de Cristo sejam suficientes. Instala-se no coração a dor por não fazer o que Deus nas Sagradas Escrituras diz que deve fazer. Com o tempo, o crente pode deixar de sentir tal sentimento e ajustar-se a uma autojustificação. O castigo real de Deus será a perda da vida eterna. Quando Deus exercer o juízo final será sobre Satanás e as obras deste, o pecado é uma obra do Diabo, por essa razão os pecadores que não se arrependeram plenamente serão destruídos por serem em consciência pecadores.

As três passagens seguintes provam isto:

“A Ele Deus exaltou com a Sua destra para ser Príncipe e Salvador, para dar o arrependimento a Israel e remissão dos pecados." (Actos 5:31)

“Ao servo do Senhor não convém contender, mas sim ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade” (2 Tim. 2:24,25).

“E quando ouviram estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Na verdade, até aos gentios concedeu Deus o arrependimento para a vida” (Actos 11:18).

O sentido disso é, simplesmente, que o arrependimento se opera no homem pelo poder vivificador do Espírito Santo, como já o notamos.

3. A FÉ

Nos textos acima citados percebemos referências à fé salvadora.

3.1 Definição da fé. A fé salvadora é confiança e firmeza no Senhor Jesus Cristo como o Salvador pessoal de alguém e portador de pecados. E, desde que a salvação inclui a santificação tanto como a justificação, a fé salvadora alcança a entrega do ser a Cristo.

3.2 A fé salvadora é distinta da “crença”.

A crença; Isto é mera crença nos factos da revelação como matérias de história, incluindo a crença na existência de Deus e em que houve um homem chamado Jesus que pretendeu ser o Filho de Deus. Pode ver-se prontamente que semelhante crença não tem valor salvador.

Assentimento intelectual; Isto sobe mais um degrau, trazendo aceitação mental das coisas reveladas de Deus e Jesus Cristo. Assim, um que crê na existência de Deus vem a crer n´Ele como sendo um ser segundo a Bíblia O revela ser e um que crê que semelhante pessoa como Jesus viveu, vem a crer que Ele era o Filho de Deus e que Ele morreu como sacrifício pelo pecado. Isto é um passo para a fé salvadora, mas não é ela mesma.

Esta pessoa olha as seguintes passagens como 1 João 4:15 e 5:1. Mas estas passagens devem ser compreendidas à luz de toda a outra Escritura e esta certamente proíbe que a crença referida nessas passagens deveriam ser entendida como sendo mero assentimento intelectual à deidade de Cristo. A fé salvadora não é meramente mental (intelecto), mas do coração (emoções). Vide Rom. 10:9,10. A crença de que se falou nas passagens supra é tal como é produzida no coração por um conhecimento experimental do poder de Cristo.

4. A FÉ COMO UM DOM DE DEUS

Isto está provado pelas passagens já citadas que designam o arrependimento como um dom de Deus; porque, como veremos, o arrependimento e a fé são graças inseparáveis. Cada uma, quando aparece só nas Escrituras, abraça a outra; porque, se isto não fosse verdade, as passagens que mencionam só uma ou outra, ensinavam que alguém possa salvar-se tanto sem arrependimento como sem fé. Isto também está provado por passagens que ensinam que a nossa vinda a Cristo e crença nEle são o resultado da obra do poder de Deus. Vide João 6:37,65; Efe. 1:19,20. Isto está ainda provado pelo fato que a fé é um fruto do Espírito Santo (Gal. 5:22).

4.1 A fé não tem mérito em si mesma; A fé é meramente o canal através do qual a graça justificante e santificante de Deus flui na alma. A Fé não é mais meritória do que o acto de se receber um dom. A Fé não é de modo algum substituto de nossa obediência à Lei, nem ela traz um rebaixamento da Lei de modo que preenchamos as suas exigências. A fé está uma vez referida na Escritura como trabalho (João 6:29), não que seja da Lei, mas somente que o homem esteja activamente engajado no seu exercício. Como um dom de Deus e como a mera tomada de misericórdia imerecida, está expressamente excluída da categoria de obras sobre a base de que o homem pretenda salvação (Rom. 3:28; 4:4,5,16). Não é o acto da alma completa dar senão o acto da alma vazia receber. Conquanto esta recepção seja movida por uma entrada no coração de Deus, pela a acção do Espírito Santo, o amor cônscio e assumido começa: semelhantemente amor é o resultado da fé (Gal. 5:6)? (A. H. Strong, Systematic Theology, pág. 469, 470).

4.2 A fé necessariamente exprime-se em obras; A fé é um princípio dinâmico. Ela ergue o amor e, portanto as obras (Gal. 5:6). A fé que não se expressa em obras é uma fé morta, o que é só uma outra maneira de dizer que é espúria ou irreal (Tia. 2:17).

4.3 Fé é confiança, esperança e expectativa; A diferença aqui é estreita, mas é uma diferença tal como é comum entre vários termos um tanto parecidos. Tanto a fé como a esperança envolvem a ideia de confiança, mas com o uso de preposições diferentes. Confiamos como um acto de fé. Confiamos para a esperança ou expectativa. A Fé é firmeza sobre algo agora presente como conhecido ou crido, Esperança é olhar para diante, para algo no futuro. Cristo é o objecto da fé; ao passo que a salvação, liberdade do pecado, glorificação e céu são os objectos da esperança. A esperança resulta da fé e, portanto, não pode ser fé. Vide Rom. 5:2-6; 15:4-13; Gal. 5:5; Heb. 11:1.

4.4 Cristo, objectivamente revelado à mente e ao coração, é o alicerce da Fé; isto está implicado em toda a Bíblia e está iniludivelmente ensinado em Rom. 10:11-17. Lemos ali que a fé vem pelo ouvir e ali também achamos a pergunta (implicando uma possibilidade): Como crerão naquele de quem não ouviram." A Bíblia nada sabe, absolutamente nada, sobre uma fé secreta, assim chamada, que pode existir à parte do conhecimento de Cristo, tal como alguns ensinam. No Velho Testamento Cristo foi revelado, não somente através de tipos e sombras, mas por meio de profetas, tal como Isaias. E nos é dito plenamente que o Evangelho foi pregado a Abraão e a Israel (Gal. 3:8; Heb. 4:2).

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