29.6.09

O CHAMADO A ABRAÃO - 3

O PACTO
O capítulo 15 de Génesis contém o primeiro relato do pacto feito com Abraão. “Depois destes acontecimentos, veio a palavra do SENHOR a Abrão, numa visão, e disse: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo grande”. Observe: Deus afirmou que ele mesmo era a recompensa [galardão] de Abraão. Se somos de Cristo, somos semente de Abraão, e conforme a promessa, herdeiros. Herdeiros de quem? – “herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo” (Romanos 8:17). O salmista referiu-se à mesma herança: “O SENHOR é a porção da minha herança” (Salmo 16:5). Temos, pois, aqui, outro argumento que relaciona a todo o povo de Deus com Abraão. A promessa para si, é a que foi feita por Deus a Abraão.
A promessa que Deus fez a Abraão não se referia somente a ele, mas também à sua semente. De forma que Abraão disse ao Senhor: “SENHOR Deus, que me haverás de dar, se continuo sem filhos e o herdeiro da minha casa é o damasceno Eliézer? Disse mais Abrão: A mim não me concedeste descendência, e um servo nascido na minha casa será o meu herdeiro” (Génesis 15:2 e 3). Abraão não conhecia o plano do Senhor. Conhecia e cria na promessa, porém, sendo que envelhecia e não tinha filhos, supôs que a semente que lhe fora prometida viria através do seu servo. Entretanto, esse não era o plano de Deus. Abraão não haveria de ser o progenitor de uma raça de servos, mas sim de homens livres.
Então o Senhor lhe disse: “Não será esse o teu herdeiro; mas aquele que será gerado de ti será o teu herdeiro. Então, conduziu-o até fora e disse: Olha para os céus e conta as estrelas, se é que o podes. E lhe disse: Será assim a tua posteridade. Ele creu no SENHOR, e isso lhe foi imputado para justiça” (Génesis 15:4-6).
“E Abraão creu no Senhor”. A raiz do verbo traduzido como “creu” é a palavra “Amém”. A ideia é de firmeza, de um fundamento. Quando Deus pronunciou a promessa, Abraão disse “Amém”, isto é, edificou em Deus, tomando a palavra de Deus como fundamento seguro. Relacionado com Mateus 7:24 e 25.
Deus prometeu a Abraão uma grande casa. No entanto, essa casa deveria ser edificada no Senhor, e assim o compreendeu Abraão, que começou a edificar sem demora. Jesus Cristo é o fundamento, já que “ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” I Coríntios 3:11. A casa de Abrão é a casa de Deus, edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Efésios 2:20). “Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. Pois isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado” (I Pedro 2:4-6)
“E Abraão creu no Senhor, e isso lhe foi imputado como justiça”. Porquê? Porque fé significa edificar sobre Deus e sua a palavra, e isso significa receber a vida de Deus e a Sua Palavra. Preste atenção nos versículos citados pelo apóstolo Pedro, que o fundamento sobre o qual se edifica a casa é uma pedra viva. O fundamento é um fundamento vivo, de quem recebem vida os que vêm a Ele, de forma que, a casa que é edificada é uma casa viva. Cresce a partir da vida do seu fundamento. Porém, o fundamento é recto: “para anunciar que o SENHOR é recto... nele não há injustiça” (Salmo 92:15). Por tanto, visto que fé significa edificar em Deus e a sua santa palavra, torna-se evidente que a fé há de ser justiça para quem a possui e a exercite.
Jesus Cristo é a origem de toda a fé. A fé tem n´Ele o seu princípio e o seu fim. Não pode haver fé real que não tenha o seu centro em Cristo. Por tanto, quando Abrão creu no Senhor, creu no Senhor Jesus Cristo. Deus revelou-Se ao homem, por meio de Cristo (João 1:18). Que a crença de Abraão foi fé pessoal no Senhor Jesus Cristo, fica também evidenciado pelo facto de que isso lhe foi imputado por justiça. E não há justiça, excepto pela fé de Jesus Cristo, “o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (I Coríntios 1:30). Nenhuma justiça terá o menor valor quando o Senhor aparecer, excepto “a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé” (Filipenses 3:9). Porém, visto que Deus mesmo considerou a fé de Abraão como justiça, torna-se claro que a fé de Abraão estava centrada unicamente em Cristo, de quem procedia a sua justiça.
Isso demonstra que a promessa de Deus a Abraão foi unicamente mediante Cristo. A semente ou descendência seria exclusivamente a que é pela fé de Cristo, já que Cristo mesmo é a semente. A posteridade de Abraão, que haveria de ser tão incontável como as estrelas, será composta pela hoste inumerável que lavou as suas vestes no sangue do Cordeiro. As nações, que haveriam de proceder dele, serão “as nações que foram salvas” (Apocalipse 21:24). Ver Mateus 8:11. “Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm n´Ele o sim; porquanto também por Ele é o amém” (II Coríntios 1:20).
“Naquele mesmo dia, fez o SENHOR aliança com Abrão, dizendo: À tua descendência dei esta terra”, etc (Génesis 15:18). Nos versículos anteriores encontramos o estabelecimento desse pacto. Temos primeiramente a promessa de uma posteridade incontável, e também da terra. Deus disse: “Disse-lhe mais: Eu sou o SENHOR que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te por herança esta terra” (verso 7). É necessário recordar esse versículo ao ler o verso 18, porque, neste caso, poderíamos ter a impressão errada de que houve algo [a terra] que foi prometida somente aos descendentes de Abraão, excluindo o próprio Abraão. “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência” (Gálatas 3:16). À sua descendência não lhe foi prometida nada que não lhe tenha sido prometido a ele.
Abrão creu no Senhor. Apesar disso, disse: “Perguntou-lhe Abrão: SENHOR Deus, como saberei que hei de possuí-la?” (Génesis 15:8). Segue a continuação o relato da partilha ao meio do novilho, da cabra e o cordeiro. Refere-se a ele em Jeremias 34:18-20, quando Deus reprovou o povo por transgredir o pacto.
“Ao pôr-do-sol, caiu profundo sono sobre Abrão, e grande pavor e cerradas trevas o acometeram; então, lhe foi dito: Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos. Mas também eu julgarei a gente a que têm de sujeitar-se; e depois sairão com grandes riquezas. E tu irás para os teus pais em paz; serás sepultado em ditosa velhice. Na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a medida da iniquidade dos amorreus” (Génesis 15:12-16).
Temos visto que esse pacto era um pacto de justiça pela fé, visto que a descendência e a terra se obteriam pela fé na palavra de Deus; fé que a Abraão lhe foi considerada como justiça [Romanos 4:20-22]. Vejamos agora o que mais podemos aprender dos textos citados anteriormente.
Fica claro que Abraão haveria de morrer antes que lhe fosse dada a possessão. Morreria idade avançada, e a sua descendência seria estrangeira em terra alheia durante quatrocentos anos.
Não é somente Abraão morreria, mas também os seus descendentes imediatos, ante que a semente possuísse a terra que se lhes havia prometido. De facto, sabemos que Isaac morreu antes que os filhos de Israel fossem para o Egipto, e que Jacó e todos os seus filhos morreram na terra do Egipto.
“A Abraão foram feitas as promessas, e à sua descendência”. O capítulo que estamos estudando nos diz o mesmo. É evidente que uma promessa feita à semente de Abraão não pode cumprir-se dando-se o prometido somente a uma parte dela; e o que foi prometido a Abraão e sua semente não pode chegar ao cumprimento a menos que Abrão participe, tanto como sua semente.
O que demonstra o texto anterior? – Simplesmente isto, que promessa do capítulo 15 de Génesis segundo a qual Abraão e a sua semente possuiriam a terra, se referia à ressurreição dos mortos, e nada menos que isso. O anterior segue sendo correcto, ainda se excluíssemos o próprio Abraão do pacto que ali se enuncia; posto que, como já temos visto, é indiscutível que muitos dos descendentes imediatos de Abraão estariam já mortos no tempo do cumprimento da promessa; e sabemos que Isaac, Jacó e os doze patriarcas morreram muito antes desse momento.
Ainda que deixando Abraão fora, permanece o facto de que a promessa à semente tem de incluir a semente inteira, e não somente a uma parte dela. Porém, não podemos excluir da promessa a Abraão. Por tanto, temos positiva evidência de que neste capítulo encontramos o registo de como foi pregado a Abraão acerca de Jesus e a ressurreição.
O CUMPRIMENTO DA PROMESSA TRAZ A RESSURREIÇÃO
Esta promessa leva-nos a compreender melhor por que Estêvão, quando teve que enfrentar o tribunal por pregar a Jesus, começou o seu discurso com uma referência a estas mesmas palavras. Falando da permanência de Abraão na terra de Canaã, afirmou que Deus “não lhe deu herança, nem sequer o espaço de um pé; mas prometeu dar-lhe a posse dela e, depois dele, à sua descendência, não tendo ele filho” (Actos 7:5). Na sua referência e essa promessa, que era bem conhecida por todos os judeus, Estevão mostrou-lhes de forma indiscutível que só poderia haver cumprimento pela ressurreição dos mortos, por meio de Jesus.
“E tu irás para os teus pais em paz; serás sepultado em ditosa velhice. Na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a medida da iniquidade dos amorreus”. Isto nos permite conhecer a razão pela qual Abraão morreu na fé, apesar de não haver recebido a promessa. Se ele tivesse esperado recebê-la nesta vida actual, terminaria decepcionado ao chegar à sua morte sem vê-la cumprida. Porém, Deus lhe disse claramente que haveria de morrer antes de ver seu cumprimento. Por tanto, visto que Abraão creu em Deus, está claro que compreendeu o cumprimento da promessa como relativo à ressurreição, e que creu nela. A ressurreição dos mortos, como veremos esteve sempre no centro da esperança de todo verdadeiro filho de Abraão.
Porém, aprendemos algo mais. Na quarta geração, ou depois dos quatrocentos anos, a sua descendência haveria de ser libertada da escravidão, na terra prometida. Porque não haveria de possuir a terra de uma vez? – Por que a maldade dos amorreus não tinha chegado à sua plenitude. Isso mostra que Deus daria ao amorreus tempo para arrepender-se, e por consequência, tempo para que cumprissem a medida da sua maldade, demonstrando assim a sua a desqualificação para possuir a terra.
E isto acentua uma vez mais que a terra que Deus prometeu a Abraão e à sua semente só pode se possuída por um povo justo. Deus não expulsaria da terra aqueles em que houvesse a mínima possibilidade de chegarem a ser justos. Porém, o facto de que o povo que haveria de ser destruído de diante dos filhos de Abraão devido à sua maldade, mostra que se espera que os possuidores da terra sejam justos. Por tanto, vemos que a descendência de Abraão, a quem foi prometida a terra, haveria de ser um povo justo. Isto já ficou demonstrado pelo facto de que a Abraão foi prometida descendência somente por meio da justiça da fé.

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